Educação integral em Curitiba: deixem seus filhos com desconhecidos

By Louis Lisban 6 Min Read

Na agenda dos meus filhos veio o recado: nesta segunda, dia 13 de março, a escola passa a atender em período integral. A orientação é levar as crianças às 8 horas direto na Unidade de Educação Integral (UEI). Devia ser uma alegria ver algo assim ser implantado, mas a realidade é outra: essa história toda é um show de desrespeito, de descaso com as famílias, com as crianças, com a equipe das escolas.

O aviso veio na quinta-feira depois de semanas sem informação nenhuma. Há uma semana, durante reunião dos pais com os professores, ninguém sabia de nada sobre a mudança. Depois do aviso, pais e alunos continuam sem saber muita coisa. O recado é simples: quer educação integral? Então largue seus filhos num lugar estranho e com pessoas desconhecidas.

No fim de 2022, depois de anunciar a implantação das turmas em tempo integral, a Secretaria Municipal de Educação desistiu de começar o ano letivo já no novo sistema. Pais, professores e alunos só souberam disso porque perguntaram. Não ocorreu à SME que é necessário comunicar decisões ao público que ela atende.

Pois bem, depois de semanas sem informação nenhuma chega o recado: as aulas começam em quatro dias. Quando as aulas da “educação integral” começarem, parte da rotina escolar acontecerá na UEI, um lugar distante um quilômetro da escola. Os pais dos estudantes não foram chamados a conhecer o lugar, nem a equipe que ficará com seus filhos durante pelo menos quatro horas todos os dias.

E não estamos falando de crianças grandes. São crianças do Pré II à quinta-série. Algumas com necessidades especiais. Outras pequenas o suficiente para precisarem de preparação quando se introduz novo elementos à rotina. Mas para a SME, tudo bem. O que importa é dizer que cumpriu a meta.

Não há informações sobre as refeições que serão servidas durante o período em que estarão na UEI. As únicas informações fornecidas: é preciso deixar a criança na UEI pontualmente às 8 horas a partir de segunda, entre 12 e 13 horas alguém da UEI irá ficar responsável por levar meus filhos da UEI para a escola de ônibus (que ônibus? Dirigido por quem? Quem sabe?). Pontualmente às 17 horas eu devo ir buscar as crianças já na escola.

O bilhete avisa que é de “suma importância” cumprir os horários. Não é importante, aparentemente, que as famílias e os estudantes saibam onde e com quem as crianças vão ficar em parte do dia. Se serão alimentadas, que atividades serão desenvolvidas e como isso se enquadra no currículo escolar.

É isso mesmo, a SME, cuja responsabilidade é, entre outras coisas, zelar pelo bem estar e a segurança de centenas de milhares de curitibinhas, acha que tudo bem despachar alguma centena deles para um lugar desconhecido. Mais ainda, que tudo bem pedir aos pais que as deixem lá sem saber o que aguarda as crianças nesse lugar. Quem são os responsáveis por elas e o que, afinal, elas farão nesse local durante 20 horas por semana.

Eu, como mãe, fico aqui me perguntando quando foi que abrimos mão de ter acesso a informações essenciais sobre a educação de meus filhos. Porque não faz sentido que em toda equipe da SME ninguém tenha percebido que é um absurdo impor uma nova rotina sem o mínimo de informação às famílias e alunos. E é absolutamente inaceitável que me peçam para deixar crianças pequenas com uma equipe que não me foi apresentada.

Na escola, a informação é de que as famílias que não quiserem ( que assinaram a adesão ao Ensino Integral, mas vão desistir) aderir ao ensino integral podem fazê-lo. Não precisa nem comunicar (como é que vão saber quantas crianças precisam levar de um lugar a outro, se não sabem quem vai desistir do ensino integral? Ou tudo bem não ter controle disso? #ironia). É um enorme “estou pouco me lixando” da SME para nós pais.

Como eu, ao contrário da Secretaria, sei da importância de ter informações, já sei que esse local onde querem “estacionar” crianças quatro horas por dia não irá atender só a escola dos meus filhos. Os outros pais de alunos da escola dos meus filhos não foram informados disso. Estranho, não?

Aos pais que precisam da escola em tempo integral resta torcer para que dê tudo certo, que seus filhos fiquem em segurança. Em parte eles confiam na competência e no trabalho de professores e funcionários das escolas públicas que, de fato, respeitam e se importam com os alunos que atendem, a despeito de trabalharem para um prefeito e uma secretária da Educação que desprezam quem deveriam servir.

 

Share This Article